terça-feira, 4 de outubro de 2011

QUE TODOS PROCLAMEM: “JESUS É O SENHOR”

Ziguinchor é a capital da região de Casamance, no sul do Senegal, na África Ocidental. Deflagrou-se um levante popular para a independência desta região; pretendiam formar um novo país. Era o ano de 1993. Eu e o Pe. Eduardo B. estávamos chegando à Guiné-Bissau havia pouco mais de um mês. Éramos recém-formados em Teologia e buscávamos melhor preparo antes da Ordenação. Meu amigo havia contraído malária (que lá se chama: paludismo) e sua vida estava em perigo, dentro das florestas de Suzana, no norte de Guiné, fronteira com o Senegal.

Da missão, dia e noite, ouvíamos estrondos de bombas e rajadas de metralhadoras nos coqueirais, vindos de Ziguinchor, na outra margem do rio. Mal sabíamos o criol (língua oriunda da mistura de idiomas locais com o português), tampouco o felupe ou djolá (falado pelo povo do lugar).

Mas, todas as manhãs, antes do alvorecer, nos dirigíamos à humilde capela da Missão Católica para a santa Missa. Pe. Giuseppe Fumagali (italiano) e Pe. Pedro Zilli (brasileiro, atual Bispo de Bafatá, na Guiné) concelebravam. As únicas palavras que compreendíamos eram: “kassumai kép” (ao cumprimentar alguém) e “matta Jesus Cristo” (“por Jesus Cristo”, no final das orações). Terminada a celebração, as Irmãs missionárias venezuelanas atendiam o Pe. Eduardo e depois iam para o campo de refugiados ajudar os feridos na tal guerra de Casamance. Os padres combinavam conosco as atividades do dia: escola, catequese, visita às aldeias próximas...

Estou partilhando esta recordação porque este Mês de Outubro nos convida a refletirmos sobre a missão da Igreja no mundo. De fato, quando Jesus ordenou “Ide pelo mundo, anunciai o Evangelho”, Ele não estava apenas indicando uma atividade dentre outras que o cristão poderia realizar. De fato, Ele orientava como gostaria que o cristão vivesse e manifestasse a sua fé.

O cristão é um instrumento de Deus no mundo! É o portador da luz e da Pessoa de Jesus! É por isso que o cristão faz a diferença onde quer que se encontre. Ele não possui luz própria, mas reflete a luz de Cristo ressuscitado. Esta é a causa de sua alegria e a razão de sua fé. Assim sendo, o mundo se torna muito pequeno: é o campo de plantação. É preciso semear a boa semente!

O testemunho de nossos missionários, de todos os tempos, deve interpelar nossa prática atual e nosso jeito de ser Igreja. Jesus se fez missionário do Pai. Na força do Espírito Santo, Ele enviou a Sua Igreja ao mundo. Desde então, milhares de pessoas tocadas pela fé tem deixado suas famílias, seus bens, e até suas culturas, para testemunhar Jesus além fronteiras. Foi assim que o Evangelho de Jesus chegou a estas terras de nossa Diocese. E, como uma graça especial, nosso primeiro Bispo era um frade missionário, que deixou sua Alemanha para dedicar-se ao Reino na região amazônica e no nordeste brasileiro. O legado de D. Anselmo também deve ser recordado neste Mês Missionário para avaliarmos como anda a missionariedade em nossa Diocese.

O nosso novo Plano Diocesano de Pastoral apresenta como primeira Urgência na Ação Evangelizadora a questão da missionariedade. Pois, “a Igreja é, indispensavelmente, missionária! Existe para anunciar, por gestos e palavras, a pessoa e a mensagem de Jesus Cristo” (nº 128). Desta forma ecoa entre nós a exortação dos Bispos em Aparecida, em 2007, de que a Igreja em nosso continente fique em “estado permanente de missão”. E também a reflexão dos Bispos do Brasil ao definirem as novas Diretrizes da Ação Evangelizadora.

Uma Igreja aberta às missões, dentro e fora de suas fronteiras, é uma Igreja viva! É um canteiro propício onde podem germinar as sementes das vocações, inclusive as de especial consagração. Continuemos pedindo a Deus a graça de compreendermos nossa presença neste mundo. Que Ele nos cumule de senso de solidariedade, inquietude e desprendimento cristãos. E que o Reino cresça entre nós e aqui se estabeleça.

Ah! À propósito, Casamance continua integrada ao território senegalês. O Pe. Eduardo, aos poucos, recuperou a saúde e tornou-se um grande e amado missionário na terra dos povos balanta e balanta-máne, em Mansôa (região central da Guiné); enquanto eu fui para a Missão de Fátima, na periferia de Bissau, terra de muitos povos, especialmente dos pepéles.

Para que todos proclamem “Jesus Cristo é o Senhor!”, a Boa Nova continua a ser anunciada lá naqueles rincões pela ação de abnegados missionários. E a Igreja na África suplica por mais missionários!

Pe. Auricélio Costa – Promotor Vocacional

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