quinta-feira, 7 de agosto de 2014

PADRE ALFREDO JUNKES

Um pouco da História do 1° Reitor do nosso seminário, Padre Alfredo Junkes.

No dia 18 de dezembro de 1936 na Igreja de Forquilhinha, celebrava-se a Missa exequial do Pe. Félix Mrugalla. Originário de Dresden, onde nascera em 1900, tinha chegado em Forquilhinha dois meses antes, acompanhando uma leva de imigrantes. Pequeno ferimento provocou tétano e ceifou esse homem, esperança dos colonos católicos para o atendimento religioso. Em meio à consternação, o padre perguntou às crianças e jovens presentes à Missa: “E agora, quem de vocês vai ocupar o lugar do Pe. Mrugalla?”. Em silêncio, um jovem respondeu para si mesmo: “Eu!”.
Era Alfredo Junkes, nascido ali mesmo em 18 de janeiro de 1923, filho de David Wendelino Junkes e Hedwiges Borgert . Doze anos depois foi ordenado presbítero em Forquilhinha, em 23 de janeiro de 1949. Teve mais dois irmãos padres: Bernardo e Silvestre.
Primeiros anos de ministério: professor e prefeito de estudos em Azambuja (1949-1952); de 1953-1954, vigário paroquial em Criciúma; em 1955 foi nomeado reitor do Pré-seminário de São Ludgero, onde viveu uma experiência trágica: em 10 de agosto de 1956, em plena noite, um incêndio iniciado na capela destruiu o seminário. Grande tristeza para toda a comunidade a visão daqueles meninos espantados e sem nada.
Em 19 de março de 1957 foi nomeado reitor e professor do Seminário diocesano de Tubarão, onde permaneceu até o ano seguinte.
Com a criação da diocese de Tubarão em 1954, Dom Joaquim conseguiu que Pe. Alfredo se incardinasse em Florianópolis, carente de padres. Em 1959 começou a funcionar em Antônio Carlos o Pré-Seminário, tendo como reitor o Pe. Vito Schlickmann. A paróquia fora criada em 19 de março do ano anterior. Dom Joaquim nomeou Pe. Alfredo Junkes para a paróquia do Sagrado Coração de Jesus em 16 de fevereiro de 1959.
O início foi desalentador: numa colina, a pequena igreja matriz. Um pouco abaixo uma velha casa adquirida da família Salum, e ranchos. Materialmente quase tudo por fazer, mas com uma área de terras privilegiada. Inteligência aguda, saído de “cargos” mais elevados, Pe. Alfredo foi tomado pela decepção, indecisão. Valeu-lhe o desafio do Pe. Vito com o pedido de “mãos à obra”. E assim foi. Em breves meses Pe. Alfredo descobriu o tesouro de fé e de generosidade operosa escondidos naquele bom povo à espera de quem o chamasse ao trabalho.
Em Antônio Carlos e nas capelas do Rachadel, Santa Maria e Louro todas as famílias eram de católicos praticantes. Não havia um só casal separado ou amasiado. A catequese era muito viva em cada capela, cada uma com coral cantando em português e alemão.
Até 1965 Dom Joaquim quis tê-lo como Mestre de Cerimônias da Catedral, razão pela qual durante a Semana Santa era substituído por padres do Seminário de Azambuja.
Nas décadas de 60 e 70, Pe. Alfredo foi o grande construtor: liderando um povo bom ergueu a imponente igreja matriz sob planta de Simão Gramlich; foram construídos casa e centro paroquiais. Rachadel, Louro e Egito ergueram novas capelas. Foram fundadas as comunidades de Vila Doze e Rio Farias.
Deve-se dizer, a bem da verdade, que Pe. Alfredo não primou muito pelo bom gosto artístico nas capelas: bastava que fossem funcionais. Gostava de ler, era assinante do l’Osservatore Romano e da Revista Eclesiástica Brasileira. Acompanhando a renovação do Vaticano II, instituiu o Diaconato permanente na paróquia.
Os colonos sentiam fortemente a necessidade do padre em dois momentos: na doença grave e no falecimento. Pe. Alfredo foi incansável nesse atendimento: a pé, a cavalo, de carroça, de Jeep, de dia ou de noite, com tempo bom ou com chuva, imediatamente atendia ao chamado. Na véspera do enterro, celebrava na residência do falecido. Para todos os mortos, Missa de Corpo presente.
Conhecia cada ovelha do rebanho pelo nome e origem familiar. No final da Quaresma podia dizer: tantas pessoas não se confessaram. Ricos ou remediados, todos recebiam o mesmo tratamento.
Quando se permanece décadas numa localidade e se conhece todos, é evidente que surjam conflitos de ordem política, de liderança. Pe. Alfredo não percebera que Antônio Carlos deixara de ser distrito, passara a município e muitos de seus filhos receberam diploma universitário. Homem culto, inteligente, atualizado, não conseguiu ser moderno na atuação pastoral e comunitária. Afirmava que ninguém nunca soube em quem votava, porém se sabia claramente em quem não votava. Mas, e isso é o importante, sempre foi pastor, zeloso pastor.
Nos últimos anos de vida foi colhido pelo sofrimento: coração, rins, depressão, a um só tempo. Em 1993 deixou o ofício de pároco. Permanecia ligado à vida paroquial e interessado nas notícias. Após longo sofrimento, suportado com fé, faleceu em 29 de outubro de 2002, estando sepultado na terra que adotou como sua por 44 anos.

Texto do PADRE JOSÉ ARTULINO BESEN

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